Janelas pro Mar é uma série de 32 colagens geométricas em cianotipia, onde fragmentos do oceano se sobrepõem como memórias dispersas. As obras evocam janelas abertas para um mar que, apesar da proximidade, parecia distante, uma metáfora para o desencontro entre presença e pertencimento. Cada composição é única, reunindo diferentes tonalidades e texturas marítimas, refletindo o fluxo das marés e a mutabilidade das águas. A técnica, que combina cianotipia sobre papel vegetal com variações tonais e sobreposição no papel Montval, reforça a sensação de deslocamento e reencontro. Entre transparências e azuis profundos, “Janelas pro Mar” reflete o tempo de espera e adaptação, o instante suspenso entre reconhecer e se reconhecer no mar.
Pele d’água nasce do encontro. Na rotina salgada da peixaria local, entre conversas, risadas e mãos calejadas, encontrei um mar que não se mede em ondas, mas em gestos. Os pescadores, com sua simplicidade e generosidade, abriram espaço para minha curiosidade e, sem pressa, me apresentaram os frutos do seu trabalho.
Usando uma lente macro e película analógica, mergulhei nos detalhes que contam histórias sem palavras: escamas como marcas do tempo, superfícies texturizadas como impressões digitais de cada espécie. A matéria do mar refletindo a essência de quem o conhece de perto.
A série se desdobra em cianotipia e tonalizações diversas, onde as marcas do processo de impressão se fundem às superfícies das escamas. Como os pescadores, cada imagem carrega sua própria vivência – rudeza e delicadeza, desgaste e brilho.
Na fotografia analógica e nos processos alternativos, a imagem nasce da interação entre luz, química e tempo. Técnicas como o Caffenol resgatam a fisicalidade do processo, tornando cada fotografia um experimento singular.
A cianotipia transforma luz e química em impressões de tons profundos, variando do azul intenso a matizes sutis por meio de processos de tonalização. Chá, café e outros agentes naturais alteram sua cor, expandindo as possibilidades dessa técnica histórica e experimental.
Renan Nascimento, conhecido como Rennis, se move pela experimentação. Sua relação com a imagem nasce do inesperado, entre maresia e película, entre a materialidade do suporte e o acaso do processo. O analógico não é apenas técnica, mas um território onde ele se mantém presente, atuando em cada etapa da construção da imagem, desde a produção dos quimicos ao processo de revelação e intervenção.
Entre a cidade e o oceano, sua fotografia capta a solidão que paira nos espaços e corpos, costurando texturas e camadas que às vezes flertam com o abstrato. Desde 2020, quando adquiriu sua primeira câmera analógica, vem explorando possibilidades não convencionais de captação e impressão, mesclando técnicas históricas, reveladores orgânicos e suportes alternativos.
Entre a quietude e a pulsação, sua obra é um exercício contínuo de deslocamento. Uma busca por desviar do óbvio, tensionando os limites da fotografia como linguagem.
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